Segundo o documento, práticas como mutilação genital e casamento infantil têm números expressivos que podem piorar com a pandemia do Covid-19
O confinamento frente a pandemia do coranavírus evidenciou a situação de extrema vulnerabilidade em que vivem milhares de meninas e mulheres em todo o mundo. Além do significativo aumento da violência doméstica e do abuso infantil durante a quarentena em diversos países, há outras práticas nocivas ao desenvolvimento feminino que podem aumentar.
Em todo o mundo, anualmente, milhares de meninas e mulheres estão sujeitas a práticas de violência física e psicológica com a conivência de seus familiares, amigos e comunidades. Neste sentido, o relatório “Contra a minha vontade: desafiar práticas que magoam as mulheres e meninas e prejudicam a igualdade”, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulgado na última terça-feira, 30 de junho, aponta para a necessidade de ações urgentes para coibir práticas como mutilação genital feminina, casamento infantil e tantas outras que ferem as mulheres e prejudicam a igualdade de gênero.
De acordo com o relatório da FNUAP, pelo menos 19 práticas, que variam desde o achatamento dos seios até testes de virgindade, prejudicam o desenvolvimento feminino e são consideradas violações dos direitos humanos. No entanto, o estudo se concentra nas três práticas mais prevalecentes: mutilação genital feminina, casamento infantil e preferência por filhos homens.
Práticas que para a diretora executiva do UNFPA, Natália Kanem, causam traumas profundos e duradouros. “Estas práticas priva as meninas e mulheres de seu direito de atingir todo o seu potencial”.
Segundo o relatório, por fim ao casamento infantil e à mutilação genital feminina em todo o mundo é possível em 10 anos, seja ampliando os esforços para manter as meninas na escola por mais tempo e ensinar-lhes habilidades para a vida, seja envolvendo homens e meninos em mudanças sociais. Investimentos que totalizaram US$ 3,4 bilhões de dólares, bem empregados por ano, em média, de 2020 a 2030 acabariam com essas duas práticas nocivas e com o sofrimento de 84 milhões de meninas.
A estimativa é de que ainda em 2020, 4,1 milhões de meninas serão submetidas a mutilação genital. E cerca de 33 mil meninas com menos de 18 anos serão forçadas a se casar, geralmente com homens muito mais velhos. Além disso, a preferência extrema por filhos em vez de filhas em alguns países alimentou a seleção de sexo ou a negligência extrema que leva meninas à morte quando crianças, resultando em 140 milhões de “mulheres desaparecidas”.
Números que podem ser agravados pela pandemia de Covid-19. Uma análise recente revelou que, se os serviços e programas de auxílio, empoderamento e educação permanecerem fechados por seis meses, cerca de 13 milhões de meninas podem ser forçadas a se casar e mais de 2 milhões de meninas podem estar sujeitas a mutilação genital feminina, de 2020 até 2030.
“A pandemia torna nosso trabalho mais difícil e mais urgente, pois agora há muito mais garotas em risco”, diz Kanem. “Não vamos parar até que os direitos, escolhas e corpos de todas as meninas sejam totalmente seus”, conclui.