Com leis que promovem a igualdade de gênero no trabalho e em casa, país é considerado o mais igualitário
A história de luta das islandesas por direitos iguais vem de longa data. Os avanços nas questões de igualdade de gênero se devem ao forte movimento feminista no país. Um bom exemplo dessa atuação foi a ida de centenas de islandesas às ruas em 1975. À época, inconformadas com os baixos salário, a dupla jornada e a pouca representação política, com o objetivo de mostrar sua relevância para a força de trabalho e o funcionamento da Islândia, em 24 de outubro, elas simplesmente pararam todas as atividades, seja profissionais ou domésticas.
Neste momento histórico, 90% da população feminina da Islândia saiu às ruas para o protesto de 1975. Ato que ficou conhecido como o “dia de folga das mulheres”, um conceito abraçado por todas as islandesas.
Hoje, passados mais de quatro décadas, esta nação de 350 mil habitantes celebra o décimo ano consecutivo como o melhor e mais igualitário país do planeta para mulheres, segundo o relatório anual de disparidade de gênero do Fórum Econômico Mundial. O relatório é um ranking de 144 países que mapeia o avanço rumo à igualdade de gênero em áreas que incluem participação econômica, representação política, educação e saúde. Com 87,7% a Islândia é seguida pela Noruega (2.º, 84,2%), Finlândia (3.º, 83,2%) e Suécia (4.º, 82,0%). Os EUA foram o 51º colocado na lista e o Brasil está apenas em 95º.
Com seu histórico progressista em questão de gênero, a Islândia foi o primeiro país da Europa e do mundo a ter uma presidente mulher democraticamente eleita, Vigdís Finnbogadóttir, que chegou ao poder em 1980.
Uma conquista que teve os primeiros passos nos idos do século 19, quando em 1850, elas conquistaram o direito a educação. Foi também nesta época que elas conquistaram o direito de herança, que antes era prioridade masculina.
Cinco décadas depois, em 1900, elas não só conquistaram o direito ao voto como à disputa por cargos eletivos no poder. Já na década de 1970, vieram as conquistas no campo da saúde reprodutiva, com uma nova lei sobre aborto e saúde da mulher. Em 1975, mesmo ano em que a grande greve aconteceu, foi criada a primeira lei de licença maternidade.
A primeria-ministra, Katrín Jakobsdóttir, eleita em 2017, é a segunda mulher a ocupar esse cargo na história do país. Nos últimos anos, a Islândia aprovou uma série de leis para reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres, garantir uma representação melhor de mulheres nos altos escalões das empresas e assegurar licença-maternidade e paternidade compartilhada e paga.
Medidas importantes de promoção da igualdade entraram em vigor e contribuíram positivamente para o cenário no país. Uma delas foi a estipulação de um sistema de cotas que prevê que a proporção de mulheres e homens em órgãos públicos não seja menor que 40% para ambos os sexos. Isso vale também para as empresas com mais de 50 funcionários.
A licença concedida aos pais, biológicos ou não, é outro ingrediente essencial na receita de sucesso da Islândia. Cada responsável tem direito a três meses de licença e outros três que podem ser usados livremente pelo casal. Ao todo, são nove meses. Essa inovação veio no início dos anos 2000 e deu tão certo que o governo agora estuda estender para 12 meses esse período.
Desde então, a Islândia vem acumulando bons resultados em indicadores importantes de qualidade de vida e igualdade de gênero. Segundo a Comissão Europeia, em um estudo sobre a Islândia, 77% das mulheres estão hoje empregadas (a média nos países da União Europeia é de 58,6%) e 33,7% delas completaram a educação superior (contra 25,8% da média na UE).
No que diz respeito ao acesso à educação e a participação política, de acordo como o relatório do Fórum Econômico Mundial, a lacuna entre homens e mulheres está completamente fechada. Hoje a Islândia possui uma das maiores representações políticas femininas do mundo. Em seu auge, em 2016, quase 48% dos deputados eleitos do Parlamento islandês eram mulheres. Hoje essa porcentagem caiu para 38%, mas ainda é bem mais alta que em países como Estados Unidos, onde as mulheres compõem apenas 23,7% do Congresso.
Mas nem tudo são flores e ainda há muitos desafios
Mesmo estando à frente dos demais países do planeta, a situação na Islândia ainda não é a ideal. Segundo o estudo, no aspecto econômico, o país tem um longo caminho a percorrer. A pesquisa notou, que embora o país seja dono do maior índice do mundo de participação feminina na força de trabalho, a desigualdade salarial entre os islandeses e islandesas que executam o mesmo trabalho persiste. Hoje, estima-se que o salário das mulheres islandesas seja até 16% menor que o dos homens nas mesmas funções.
Outro aspecto preocupante diz respeito a violência e o assédio sexual de mulheres, fator que não é medido no relatório de disparidade de gênero do Fórum Econômico Mundial, que ainda é um problema sério no país.
Um estudo da Universidade de Islândia, apontou que 30 por cento das mulheres islandesas, com mais de 18 anos, tinham sido assediadas sexualmente, por um homem pelo menos uma vez. Destas, 13 por cento foram violadas, ou passaram por uma tentativa de violação. Segundo o Eurostat, a Islândia está nas primeiras posições na Europa em números de estupro e agressão sexual.