Poliamor

O fim do amor romântico.

Regina Navarro Lins, psicanalista e  escritora,  autora de  livros sobre relacionamento amoroso e sexual, em  sua obra “O livro do amor”, estudou o nascimento do amor romântico e concluiu que ele é fruto de uma construção social. O livro, resultado de cinco anos de pesquisas, na qual a autora fez um longo retorno ao passado, da pré-história aos dias de hoje, revela que ao longo dos séculos homens e mulheres desempenham papéis em constante mutação. Para ela amor e sexo são coisas distintas, traição é natural, a bissexualidade é uma tendência e o casamento tradicional está com os dias contados. “O amor é uma construção social e se apresenta de formas diferentes. As pessoas precisam parar de idealizar o amor. Não tenha dúvidas de que podemos escolher nossa forma de viver. Num futuro não muito distante, o sexo será mais livre. A bissexualidade é uma tendência”, diz Regina.

Irreverente e transgressora, suas ideias sobre relacionamentos são polêmicas. De acordo com a psicanalista, os tradicionais modelos de amor e sexo não correspondem mais às expectativas do século XIX. “As pessoas são infelizes porque idealizam o amor, acreditam na exclusividade conjugal. Traição é uma palavra muito forte para definir o desejo por outra pessoa fora da relação. Sentir atração por outra pessoa é algo natural. Trair é enganar um amigo, um irmão”. Regina acredita que na segunda metade do século XXI, as pessoas viverão o amor e o sexo bem melhor do que vivem hoje. Segundo ela, essa transformação começa à medida que o amor romântico, que entrou nos relacionamentos a partir do século XX, sai de cena.“Esse tipo de amor é calcado na construção idealizada do outro. As pessoas conhecem alguém, inventam uma pessoa que não existe, atribuem características a ela que não lhes pertencem e depois passam a vida toda querendo mudá-la.  Com o amor romântico, as pessoas não se relacionam com a pessoa real, que está ao lado, e sim com a que se inventa de acordo com as próprias necessidades”. No entanto, seria totalmente absurdo dizer que ninguém mais poder ser monogâmico, por exemplo. Se alguém quiser ficar 30, 40 anos amando e fazendo sexo exclusivamente com a mesma pessoas , tudo bem. Se quiser ter três, quatro parceiros fixos, ou se relacionar com pessoas do mesmo sexo, tudo bem também, desde que seja uma escolha”. 

Regina afirma ainda que a bissexualidade passa a ser uma tendência à medida que avança o fim do sistema patriarcal, um sistema que se manteve por cinco mil anos com o domínio sobre a fecundidade da mulher. “Desde que o sistema patriarcal se instalou, houve a separação do  masculino e feminino. Nesse modelo, o homem não podia mostrar fraqueza, ser emotivo, sensível , tinha que ser forte, poderoso, corajoso. Já a mulher não podia ser forte, tinha que ser fraca, meiga, submissa. Isso fez com que ambos os sexos ficassem aprisionados nesses estereótipos por milênios. Mas, na verdade, somos todos, homens e mulheres, passivos e ativos, fortes e fracos, corajosos e medrosos. Assim, à medida que esses estereótipos caem por terra, acredito que a bissexualidade vá aumentar muito porque a escolha do amor vai estar baseada na pessoa, no ser humano,independente do sexo”. 

O poliamor é outra tendência apontada por Regina. Ela acredita que nas próximas décadas será natural amar e ser amado por várias pessoas. “Hoje, a grande viagem do ser humano é para dentro de si mesmo, na busca por novas descobertas. O amor romântico propõe o oposto dos anseios atuais. Com o fim da ideia de encontrar a outra metade, menos pessoas vão querer se fechar em uma relação a dois e mais vão optar por relações múltiplas. O que não significa o fim das relações a dois”, observa. Segundo ela, quando o assunto é amor e sexo, não existem regras ou modelos ideais, mas  é preciso reformular as expectativas a respeito da vida a dois. “A relação tem que ser desprovida de manifestações de possessividade, de ciúmes. Não devemos exercer nenhum controle sobre a vida sexual do outro, até porque esse é um assunto que só diz respeito à própria pessoa. Em um relacionamento, você só tem que certeza de duas coisas: se sentir amada(o) e desejada(o). Mas aceitar o fim da exclusividade sobre o desejo do outro ainda não é fácil para a maioria. Por isso, para viver melhor uma relação, aconselho a jogarmos o moralismo no lixo. Uma decisão que exige muita coragem”, conclui.

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