Ativistas angolanos criam biblioteca a céu aberto

Com mais de 2.700 livros, a Biblioteca “Despadronizada” reúne diariamente entre 100 a 150 leitores

Criada no auge da pandemia, em setembro de 2020, o projeto que tem acolhido diversas atividades como a formação de meios de biossegurança, debates sobre a literatura, poesia e xadrez, surgiu da iniciativa de dois jovens que vendiam cigarros e uísque no local, Arantes Martins e Francisco Mapanda.

De acordo com eles, a iniciativa surgiu da necessidade de partilhar opções de leitura enquanto um privilégio pouco acessível às comunidades das periferias de Angola.

“Debaixo da ponte é lugar das pessoas marginalizadas, ou seja, nós compreendemos que aqui há um conjunto, há um nicho de muitas pessoas marginalizadas, como é o trabalhador do carro de mão, como é o sapateiro, como é a zungueira, como outras pessoas que desempenham trabalhos muito característicos das periferias. Porque não partilhar com estas pessoas que têm esta relação com a ponte? Ao invés delas terem essa relação menos saudável só de vir para fumar, de vir esperar um táxi.

Estamos debaixo da ponte, trazemos livros para debater, as pessoas estão interessadas nos livros… Vamos criar alguma coisa aqui para que aquilo que nós lemos seja acessível a outras pessoas. Aquela coisa que eu estava a falar sobre os privilégios. A partilha dos privilégios, os privilégios só fazem sentido se forem partilhados.

Há dois grandes problemas que nós identificamos com a biblioteca que é o acesso aos livros e o problema da aquisição.

Nós temos aqui de tudo um pouco, temos aqui Ondjaki, este livro ele lançou mesmo aqui, temos também muita literatura internacional, temos Goethe, temos o pai da literatura alemã, temos Saramago, temos Machado de Assis, temos muitos livros aqui, temos Augusto Cury e outros.

Nós estamos debaixo da ponte para ligar pessoas à literatura, ou seja, para ligar as pessoas à literatura. Porque nós andamos a construir muitas ilhas percebes? Muitas ilhas e muitas vezes questionamos, nós não queremos união, não queremos porque estamos a criar ilhas, às vezes problemas são as ilhas, os problemas são a nossa falta de compreensão que as ilhas podem existir, mas é necessário que façamos pontes que ligam essas várias ilhas para que haja essa confluência e que haja esse intercâmbio de valores, de compreensão de entendimento, é mais ou menos isso”.

A biblioteca despadronizada está localizada em Luanda, na avenida Deolinda Rodrigues, rua da Robaldina, junto à estrada Nacional 230.

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