Livro reúne textos de 75 escritores lusófonos sobre a conjuntura atual por causa da covid-19
Lançado recentemente no Festival Literário de Lisboa, a obra resulta de um desafio lançado pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em março de 2020, a escritores e agentes culturais de todos os países lusófonos para elaborarem um texto (em prosa ou poesia) sobre os efeitos da pandemia na sociedade e no setor cultural.
Editado e coordenado pela UCCLA, o livro que será distribuído pela Guerra e Paz, reúne textos de autores laureados com o Prémio Camões, como Manuel Alegre, Mia Couto e Germano Almeida, mas também de escritores que estão “a afirmar-se no domínio das letras”, ressaltou a UCCLA em comunicado. “São cerca de 40 escritores e 35 escritoras, naturais dos países de língua oficial portuguesa, a que se juntam escritores da Galiza e Olivença/Espanha, Goa/Índia e Macau/China”, sublinhou a organização.
Dentre os textos veiculados a UCCL, destaca a mensagem de esperança na capacidade de resistência à pandemia, do decano dos poetas Manuel Alegre. “(…) fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa/ cidade aberta/ ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste/ e em cada rua deserta/ ainda resiste”.
O livro “Literatura e Cultura em Tempos de Pandemia”, foi lançado no Festival Literário de Lisboa, no Centro Nacional de Cultura, no dia 6 de maio. A cerimónia de lançamento contou com as intervenções de Manuel Fonseca, da Guerra e Paz, e de Goreti Pina, poetisa de São Tomé e Príncipe, em representação dos 75 autores.
O lançamento da obra integra as ações de promoção do plano para a Promoção e Difusão da Língua Portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O novo plano “tem iniciativas que vão de África ao Brasil, grande polo de difusão da língua portuguesa, naturalmente, pelo seu peso demográfico, mas também à Ásia, que tem na ponta do continente a China, e onde fica Macau, com mais de 500 anos de utilização e promoção da língua portuguesa”, afirmou Rui Lourido, o novo coordenador da comissão temática da CPLP.
“Lisboa ainda
Lisboa não tem beijos nem abraços
não tem risos nem esplanadas
não tem passos
nem raparigas e rapazes de mãos dadas
tem praças cheias de ninguém
ainda tem sol mas não tem
nem gaivota de Amália nem canoa
sem restaurantes sem bares nem cinemas
ainda é fado ainda é poemas
fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa
cidade aberta
ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste
e em cada rua deserta
ainda resiste.”
Manuel Alegre
20 de março de 2020