Protesto contra violência de gênero em São Tomé e Príncipe

Centenas de pessoas saíram hoje à rua na capital são-tomense numa manifestação organizada pela sociedade civil para protestar contra o assassinato, sábado, de uma mulher pelo seu antigo companheiro, na comunidade de Boa Entrada

“Esta é uma manifestação de indignação, de revolta, é um grito de alerta às autoridades e hoje nós vestimo-nos todas de luto para manifestarmos esta indignação”, disse Celiza de Deus Lima, representante da sociedade civil. Para a advogada, a onda de violência que o país tem vivido “é simplesmente insustentável”. “Nós não podemos conviver com a violência que tem havido contra as mulheres e contra as crianças, incluindo o abuso sexual de menores”, justificou a representante da sociedade civil promotora da manifestação.

Celiza de Deus Lima defende que o assassinato ocorrido em Boa Entrada, cerca de 13 quilómetros a norte da capital, revela “a falta de proteção das mulheres” em São Tomé e Príncipe. “Isto é o reflexo da falta de proteção das mulheres. Era uma situação de que a senhora já havia apresentado queixa e já era do conhecimento das autoridades que, de facto, aquela cidadã era vítima de violência doméstica. Infelizmente não houve resposta atempada e tivemos um crime bárbaro que assolou o país”, explicou.

“Nós queremos justiça”, “Abaixo a violência” gritavam sobretudo as mulheres, que empunhavam cartazes com as palavras “Nós as mulheres dizemos basta”, e que acusavam o Governo de “não fazer nada” para impedir a crescente onde de violência contra as mulheres em São Tomé e Príncipe.

No sábado, Maria de Lurdes Pina Pereira, 40 anos, foi assassinada com golpes de catana num crime cometido pelo seu antigo companheiro, Helder Soares Moreira, com a qual já não vivia há mais de um ano.

Em nota de condolências dirigida à família da vítima, a ministra da Justiça, Administração Pública e Direitos Humanos, Ivonete Correia reconheceu que “estes tipos de crime têm vindo a crescer na sociedade”. A ministra considera que se trata de “um hediondo crime de homicídio, sendo um dos mais graves de todos os crimes que viola todos os direitos fundamentais da dignidade humana e o direito à vida”.

“O Governo vem por este meio repudiar este comportamento desumano e endereça à família enlutada as mais sentidas e profundas condolências”, indica a nota de condolências, assinada pela ministra da Justiça com data de 16 de julho.

A comissão do Gênero, Família, Coesão Social, Juventude, Desporto e Comunicação Social do parlamento são-tomense também manifestou a sua “mais viva indignação e mais veemente repúdio e condenação perante um crime cujos contornos apontam para mais uma situação fatal de violência baseada no género”.

Em comunicado distribuído hoje, a Assembleia Nacional manifestou ainda a sua “crescente preocupação com o aumento dos índices de criminalidade e de violência, nomeadamente física, que tem vindo a atingir de forma muito particular as mulheres”.

Na manifestação, que juntou também familiares da vítima, participaram três candidatos às eleições presidenciais de 18 de julho, nomeadamente, Guilherme Pósser da Costa, apoiado pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) e os independentes Moisés Viegas e Abel Bom Jesus.

MYB // JH

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