Amor e sexo na velhice

Antropóloga derruba o mito de que não existe vida sexual na terceira idade. Para ela, não só existe como é extremamente gratificante, prazerosa e saudável

Mirian Goldenberg, antropóloga, professora e escritora, entende que a sociedade costuma enxergar na terceira idade o fim do erotismo por preconceito. O assunto continua sendo um tabu mundo afora. Mas se engana quem pensa que o amor e o sexo na terceira idade só acontecem na ficção. Com base nas pesquisas que deram origem ao livro A Bela Velhice, Mirian constatou que os velhos de hoje vivem com mais liberdade, têm relação sexual, se masturbam e podem proporcionar muito prazer a seus parceiros. “As pessoas acreditam que a velhice é uma fase de ausência de desejos, de vontades, de abandono. Isso é puro preconceito. Na verdade, continuamos sendo quem sempre fomos, muitas vezes até mais livres do que somos. Velho é sempre o outro. No entanto, velho somos nós, hoje ou amanhã. Se todos pensarem assim, vão enxergar outras possibilidades na velhice, inclusive sexualmente”, afirma.

A forma como a pessoa viveu o sexo ao longo da vida, segundo Mirian, influencia a maneira como o sexo será na terceira idade. “Quem sempre gostou provavelmente vai querer continuar exercendo a sexualidade. Mas quem já não gostava vai aproveitar para se aposentar deste aspecto da vida. Portanto, depende muito do peso que o sexo teve em outras fases da vida”, analisa. Ela diz ainda que nessa fase há uma inversão dos papéis tradicionais de gênero. Nesse sentido, as mulheres passam a ser menos recatadas e os homens mais afetuosos. Nas sensações também existem mudanças: o prazer está em todo o corpo, ocorrendo uma “desgenitalização”. 

Dados do Datafolha revelam que o sexo foi e continua sendo importante para mais da metade da população de idosos do país, que afirma ter relações sexuais uma vez ou mais por semana. Mesmo para os que já têm mais de 75 anos, 24% se revelaram sexualmente ativos. Para a antropóloga, os dados reforçam a tese de que, para os velhos de hoje, a idade não é um fardo e pode ser vivida com beleza, liberdade e felicidade. De acordo com Mirian, os velhos de hoje são os jovens dos anos de 1960 e 1970. Geração que teve como prioridade a busca do prazer e da liberdade sexual, a recusa de qualquer forma de controle e de autoridade e a defesa da igualdade entre homens e mulheres. “Essa geração não aceitará o imperativo: ‘Seja um velho’ ou qualquer outro tipo de rótulo”, destaca.

Os estudos conduzidos por Mirian também revelam que, ao contrário do que pensa a maioria, as mulheres envelhecem melhor do que os homens. “Elas se cuidam muito mais, vão com maior frequência ao médico, assim como cuidam da pele, pintam o cabelo, comem melhor, se exercitam mais. Ao longo da vida, a mulher tem mais medo de envelhecer do que o homem. Mas quando ela envelhece, este medo diminui”, observa. Por se sentirem mais livres, enquanto eles buscam refúgio na família, elas saem em busca de novas experiências. “Nessa fase da vida, elas vivem o momento como uma libertação das obrigações que cumpriram a vida toda. Dizem que é o melhor momento da sua vida, quando se sentem livres para serem elas mesmas. Já os homens, depois de anos dedicados a obrigações profissionais, passam a valorizar mais os afetos, procuram na família um acolhimento”, analisa.

Para a pesquisadora, um projeto de vida é essencial tanto nos velhos de hoje quanto nos de amanhã. “Precisamos aprender desde cedo a construir nossa velhice para que lá na frente não nos arrependamos por não haver valorizado nossa própria liberdade adquirida tardiamente. Você  pode ser homem, mulher, branco, negro, homossexual ou heterossexual, mas, se viver, será velho. É uma categoria que atingirá todo mundo, da qual todos farão parte um dia”, conclui.

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