A mulher que deu nome a Revolução de 25 de abril
Em 1974, Celeste Martins Caeiro, tinha 40 anos e era empregada de mesa no restaurante Franjinhas, que celebrava o seu primeiro aniversário de funcionamento, um local inovador para o seu tempo com serviço de self-service.
A lisboeta, a mais nova de três irmãos de mãe galega, em 25 de abril de 1974, não chegou a trabalhar. O patrão falou-lhe numa revolução e mandou todos os empregados para casa. Antes disso disse que quem quisesse podia levar os molhos de flores que tinham sido comprados no mercado da Ribeira para oferecer como um miminho às clientes desse dia. Eram cravos.
Com os cravos nos braços, sem saber que iria registar o seu nome nos livros de história, Celeste seguiu seu caminho de volta para casa. Entrou no metro e desceu no Rossio, caminhando até ao Chiado, onde morava num 5.º andar em frente aos Armazéns do Chiado. Chegada à rua do Carmo deparou-se com um grupo de soldados em cima de um tanque de guerra. Curiosa, perguntou-lhes se estavam ali há muito tempo. “Desde as 3 da manhã”, respondeu um militar, que lhe pediu “um cigarrinho”.
“Não tinha e tive pena, olhei para todos os lados a ver se havia alguma coisa aberta para lhes arranjar qualquer coisa para comerem mas não havia nada. Então tirei um cravo e dei-lhe, era a única coisa que tinha. Era vermelho, mas também tinha brancos. Aceitou, podia não ter aceitado. Pôs no cano da espingarda e achei bonito. Depois tirei outro e dei a outro soldado, que também pôs no cano. As pessoas julgam que fui eu que pus os cravos nas espingardas, mas não, eles estavam muito alto”, recorda.
Ao verem alguns soldados já com as armas “enfeitadas” de cravos, as habituais vendedoras de flores do Rossio trataram de multiplicar o gesto de Celeste, dando força ao movimento que não derramou sangue na sua operação (os 4 mortos civis da revolução foram atingidos por balas da DGS).
Apelidada de Celeste dos Cravos, com aquele gesto inocente e belo acabou por dar o nome à revolução que acabou com a ditadura em Portugal.
Mas isso não lhe trouxe fortuna ou sequer convites para estar presente em comemorações oficiais do 25 de Abril. A sua vida acabaria por ser marcada pela tragédia do incêndio do Chiado, em agosto de 1988.
O seu quarto alugado ao pé dos Armazéns do Chiado foi engolido pelas chamas que paralisaram a capital do país. Teve pouco tempo para salvar os seus pertences. Celeste confessa mesmo que “perdeu tudo”, mas o que lamenta mais “são as fotografias” de toda uma vida.
Celeste, que no próximo dia 2 de maio fará 89 anos, vive modestamente numa rua paralela à Avenida da Liberdade, com uma aposentadoria que não chega aos 400 euros.
Veja a história contada pela própria ao site da CML, em 2014.
Fonte: DCM