Campanha quer proteger mulheres vítimas de golpe amoroso em aplicativos, promovendo atendimento psicológico gratuito e suporte jurídico.
Lançada propositalmente em 12 de junho, Dia dos Namorados. Data na qual comemoramos o amor, a adrenalina da conquista, as borboletas no estomago, as conversas a qualquer hora, os encontros, a paixão. Mas, infelizmente, para 4 em cada 10 mulheres estas emoções se transformam em tragédia financeira e emocional.
Foi pensando neste grupo de mulheres vítimas de golpes financeiros em relações amorosas, conhecido como estelionato sentimental, que a campanha, idealizada pela agência de comunicação FRESH PR, com parceria da Associação Brasileira de EMDR, da Hibou Pesquisas e da Kickante, foi lançada. A ação ainda conta com o apoio de conteúdo e acessos da NAVV – Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência do Ministério Público de São Paulo e Phono Filmes.
De acordo com Desiree Hamuche, sócia da agência FRESH PR, a ideia surgiu após ela assistir a séria da Netflix “O Golpista do Tinder” (Netflix), que a impactou, especialmente pela forma como as vítimas eram abordadas, como ingênuas, desiludas. “Aquilo me comoveu e eu quis saber como era o cenário no Brasil”, conta.
O primeiro passo, segundo Desiree, foi encomendar a pesquisa, Golpe Amoroso Digital, conduzida pela Hibou Pesquisas, exclusivamente para o projeto “Era Golpe, Não Amor”, cujos resultados revelaram-se assombrosos: 4 em cada 10 mulheres já foram impactadas, de alguma forma, por golpes em aplicativos de relacionamento. “Muitas vezes, elas nem sabem o que fazer, têm vergonha de ter sido vítima de alguém por quem estavam envolvidas afetivamente”, ressalta Desiree. A pesquisa foi desenvolvida a partir de respostas de mais de 1200 mulheres brasileiras (março de 2022).
Os dados revelaram ainda que a lábia de golpistas atinge mulheres de todas as faixas etárias e classes sociais. Tanto é que 22% das mulheres afirmam conhecer alguém que passou por abordagem de um golpista nos aplicativos, 9% dizem que foram abordadas diretamente e perceberam na hora, e 7% foram abordadas e perceberam apenas depois de alguma interação. Fragilizadas e envolvidas emocionalmente, elas buscam infinitas formas de agradar o “parceiro”. Os casos seguem a mesma lógica: começam com a paixão e promessas de algum futuro, passam pelo pedido “carinhoso” de apoio financeiro, e terminam com o sumiço. As abordagens do “crush” podem acontecer de diferentes formas que resultam em impacto no bolso e na saúde mental das mulheres.
O golpe financeiro é o mais comum
Segundo relato das vítimas, os três golpes mais comuns estão, de fato, relacionados às finanças, mesmo que tenham sido bem sucedidos ou não. 53% das mulheres afirmam que o golpista pediu dinheiro emprestado; e 25% solicitou ajuda para pagar alguma conta. Outro engano sofrido pelas mulheres: 39% passaram por mentiras ou invenções sobre a vida real do “crush”; Entre as mulheres que sofreram perdas por estelionato sentimental, 12% afirmam que perderam mais de R$5.000; 20% perderam entre R$500 e R$2.000; 10% até R$500; e 3% perderam de R$2.000 a R$5.000.
Impacto emocional
“Quando veem suas economias e sua vida financeira desmoronarem por serem enganadas amorosamente, as vítimas encaram questões emocionais profundas, como depressão, ansiedade, baixa autoestima, entre outros. Infelizmente, elas sentem que foram inocentes, burras e até mesmo coniventes com o criminoso”, explica Ana Lúcia Castello, Presidente da Associação Brasileira de EMDR. “A terapia focada na cura do stress pós-traumático é uma importante ferramenta para que as vítimas possam seguir a vida e se reerguer rapidamente”.
Dentre os danos emocionais, 38% das mulheres relatam que mudaram sua perspectiva quanto a conhecer pessoas pela internet; 29% desistiram de usar sites/apps de relacionamento; 14% desistiram de procurar alguém para se relacionar; 14% mudaram a perspectiva sobre conhecer novas pessoas; e 10% passaram por depressão.
Esse crime tem nome: Estelionato Sentimental
Embora não exista uma lei com a nomenclatura específica para o Estelionato Sentimental, a prática criminosa é identificada pelo artigo 171 do Código Penal – ato de “obter para si ou para outrem vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. “Por falta de conhecimento, muitas mulheres deixam de procurar o equipamento jurídico para se defenderem desse tipo de abuso e violência psicológica”, diz Silvia Chakian. “Mas existem diversos caminhos possíveis na lei. O mais importante é que as vítimas entendam que elas passaram, sim, por um crime e podem buscar a justiça”.
A iniciativa “Era Golpe, Não Amor” é um hub de apoio para mulheres vítimas de golpes financeiros em relações amorosas, chamado de estelionato sentimental, com esclarecimentos jurídicos concedidos por Silvia Chakian, Promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, e integrante da Promotoria Especializada de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar do Ministério Público de São Paulo; apoio e contatos para acesso a suporte jurídico gratuito da NAVV – Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência do Ministério Público de São Paulo. Atendimento psicológico gratuito de terapia EMDR, abordagem terapêutica recomendada pela Organização Mundial da Saúde para tratamento de estresse pós-traumático. As consultas são realizadas por profissionais da Associação Brasileira de EMDR, mediante cadastro.
Não há limite de vagas, basta cadastrar-se no site da campanha: https://www.eragolpenaoamor.com.br. Também será oferecida assistência para criar uma vaquinha online na plataforma Kickante, uma forma de tentar recuperar-se financeiramente. O projeto dura até dezembro deste ano.