Após entrevista em que Temer diz que Dilma é “honestíssima” e que o impeachment foi político, ex-presidenta reage: ‘Não use minha honestidade para aliviar sua traição’
A ex-presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (22) que o ex-presidente Michel Temer passará para a história como articulador de “uma das maiores traições dos tempos recentes”. Em nota, Dilma rebateu afirmações feitas por Temer em entrevista concedida ao portal UOL ontem. Ela disse que “agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política”.
Na ocasião, Temer afirmou que Dilma é “honestíssima”. O ex-vice classificou como mentira atribuir corrupção ao governo Dilma. “Não há nada que possa apodá-la de corrupta. Para mim, honestíssima”, disse. Temer admite, assim, que o impeachment teve motivação política, porque Dilma teria “dificuldade de se relacionar com o Congresso Nacional e com a sociedade”. Mas chama o golpe de 2016 de “cumprimento da Constituição”. Alega que foram “as ruas” que levaram ao impeachment, mas omite que – na ocasião – a bandeira anticorrupção, inflamada pela mídia, levou as pessoas às ruas. Além disso, não explica por que, na ocasião, nem disse que Dilma era honesta, nem que não havia crime de responsabilidade que justificasse o impeachment.
A ex-presidenta, por sua vez, reitera categoricamente como traição os atos de Michel Temer. E justifica, observando que Temer foi eleito pelas urnas duas vezes como vice graças ao programa de governo que apoiou. “É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes. E, assim, sabia por duas vezes qual era o programa político das chapas vitoriosas que foram eleitas em 2010 e 2014.”
“O que se conhece dele é suficiente para evitá-lo”
No entanto, ela acentua, o golpe que Temer ajudou a articular teve a finalidade de pôr em prática o programa de governo que havia derrotado nas eleições citadas. “As provas materiais da traição política” foram expressas na emenda que criou o Teto de Gastos, na lei de “reforma” trabalhista”, que exterminou direitos e não criou empregos, e na aprovação da política de Preço de Paridade de Importação da Petrobras (PPI) – que levou à explosão dos preços da gasolina, do diesel e do botijão de gás. Todas, ressalta Dilma, ações para as “quais (ele) não tinha mandato”. “Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.”
“Lembro ainda que a ‘dificuldade de diálogo com o Congresso’ não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe”, acrescenta a ex-presidenta. “Tal ‘dificuldade’ era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara deputado Eduardo Cunha(MDB-RJ), criador do Centrão”, explica. Segundo Dilma, Cunha queria apoio dela para implantar o “orçamento secreto, realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal”, afirma, sem citar o nome do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Desse modo, Dilma afirma que a “História não perdoa” a prática da traição. “O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor.”
Fonte: Redebrasilatual