O número é o maior já registrado em um semestre e ocorre no momento em que o país teve o menor valor destinado às políticas de enfrentamento à violência contra a mulher.
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, média de quatro mulheres por dia. Um aumento de 3,25% em relaçao ao mesmo período do ano passado, quando 677 mulheres foram assassinadas. O número é o maior já registrado em um semestre e ocorre no momento em que o país teve o menor valor destinado às políticas de enfrentamento à violência contra a mulher. Se comparado com 2019, o crescimento foi de 10,8%, “apontando para a necessária e urgente priorização de políticas públicas de prevenção e enfrentamento à violência de gênero”, diz o Fórum.
O estudo também mostrou que o número de violações de mulheres no Brasil aumentou 4,46% no primeiro semestre deste ano, quando foram registrados 29.285 casos, trazendo este indicador de volta ao seu nível pré-pandémico. Em média, segundo os dados do primeiro semestre, uma mulher é violada a cada nove minutos no Brasil.
“Os dados mostram que a violência contra as mulheres aumentou nos últimos quatro anos, ao mesmo tempo que o investimento em políticas públicas para as proteger foi deliberadamente reduzido”, disse a diretora do fórum, Samira Bueno.
A organização ressaltou que os cinco milhões de reais que o Governo brasileiro investiu em 2022 em programas para combater a violência contra as mulheres representam o montante mais baixo dos últimos quatro anos.
Em comparação com os quatro anos anteriores ao atual governo de Bolsonaro, ou seja, de 2016 a 2019, os repasses de recursos para o combate à violência contra as mulheres foram de R$ 366,58 milhões. Já entre 2020 e 2023, anos que englobam os repasses enviados pela atual gestão, os reursos foram de R$ 22,96 milhões para políticas específicas de combate à violência contra a mulher. Uma queda de 94%.
Esta redução de recursos, denunciou Bueno, coincidiu com um período em que o Governo de Jair Bolsonaro deu prioridade à família ao criar o Ministério da Família e dos Direitos Humanos, desviando a atenção das mulheres como sujeitos de direitos nas políticas públicas.
Para Bueno, “não chega a ser surpreendente esse crescimento nos feminicídios no primeiro semestre de 2022. O que nos causa espanto é que, quando a gente analise esse período de quatro anos, e compara o primerio semestre deste ano e o primeiro semestre de 2019, esse crescimento quase bate 11%. Então é um número muito elevado, em um momento em que o Brasil está fazendo cair a violência letal. O Brasil reduziu significativamente os homicídios de 2019 para cá, mas a violência baseada em gênero, a violência que atinge mulheres está crescendo. Então, isso me parece muito claro que é um descaso do Estado com políticas públicas de acolhimento, prevenção e enfrentamento à violência”, completou.
Neste sentido, Bueno salientou a necessidade de o vencedor das eleições presidenciais de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva, oferecer alternativas a partir de 01 de janeiro, quando tomará posse, e dar prioridade às políticas públicas de prevenção e combate à violência de gênero.