Maternidade: um manifesto contra a culpa, por Sheila Heti

No livro:”Maternidade”, sob a forma de monólogo, silencioso e obsessivo, a autora levanta um debate fundamental, não substimando o direito de optar por não ser mãe

Assim como na mente da protagonista, há uma luta na cabeça de muitas mulheres com relaçao a maternidade. Um debate ainda assombrado por aspectos ideológicos, políticos, religiosos e emocionais, que muitas vezes coibem o simples pensamento de não ser mãe. Uma opção ainda desafiadora em pleno século XXI. Uma batalha obsessiva para chegar a uma decisão que envolve culpa, pressão do tempo e pressão social, expectativas alheias, procura de realização pessoal, liberdade.

Neste sentido, a autora narra a guerra solitária com os fantasmas e sonhos que a visitam na vigília ou durante o sono. Em seu livro, Sheila faz uma indagação filosófica, artística, amorosa, sexual, religiosa, mas sobretudo literária acerca de uma das maiores fontes de ansiedade para uma mulher: ser ou não mãe, ter ou não ter um filho.

Indagação cada vez mais presente no cotidiano das mulheres contemporâneas. Em Maternidade, a personagem (que também se chama Sheila) não subestima seu privilégio de escolher. Para ela a questão principal não é sobre ter ou não ter filhos, mas sobre o sentido da vida, do que ela quer fazer com a sua existência.

A maternidade ainda é vista como a principal atividade da vida feminina, expressar a ausência disso é ainda muito complexo e polemico. O termo “não mãe”, ainda é visto como uma definição negativa de si mesma, define a autora, que ao final da sua narrativa manifesta o desejo de ser um fim em si, e não uma ferramenta para a criação de outra vida.

A conclusão do livro é muito simples, mas acima de tudo muito poderosa: A maternidade é uma escolha pessoal, individual de cada mulher. Portanto, qualquer resposta vinda de um questionamento ponderado, seja ela sim ou não, é bem-vinda. “Viver de um jeito não é uma crítica a todos os outros jeitos de se viver. Será que é essa a ameaça que a mulher sem filhos representa?”, questiona. “A vida de uma pessoa não é um discurso político, ou geral, sobre como todas as outras vidas devem ser. Outras vidas deveriam correr paralelamente à nossa sem nenhuma ameaça ou juízo”, conclui a autora.

Maternidade, de Sheila Heti
Companhia das Letras (2019), 312 págs.

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