Rita Lee, ícone do rock brasileiro, morre aos 75 anos

Cantora faleceu vítima de um câncer de pulmão, diagnosticado em 2021 

Rita Lee morreu na noite desta segunda-feira (8), em sua casa, aos 75 anos, em São Paulo. Ela deixa seu marido Roberto de Carvalho e seus três filhos Beto, João e Antonio Lee. A cantora, conhecida como rainha do rock brasileiro, lutava contra um câncer no pulmão desde 2021.

A informação foi confirmada pela família dela por meio de comunicado oficial divulgado nas redes sociais nesta terça (9). O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10).

Com um humor ácido e sem papas na língua, Rita Lee ficou conhecida pelas frases marcantes e declarações polêmicas. Neste sentido, nem mesmo a sua própria morte escapou de sua fina ironia. Em sua autobiografia, lançada em 2016, com o título “Rita Lee, uma Autobiografia”, ela imaginou, de forma bem-humorada, como seriam os momentos após a sua partida. 

No capítulo “Profecia”, Rita Lee descreve, em 12 linhas, como seria a reação dos fãs, da mídia, dos desafetos após a sua morte. Confira:

Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que eu farei falta no mundo da música, quem sabe aré deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão “Ovelha Negra”, as tvs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: “Thank you, Lord, finally sedated”. (Obrigado, Senhor, finalmente sedada). Ao final, Rita Lee, mantendo seu habitual bom humor, anunciou como seria o seu epitáfio: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.

E foi assim, com esta mesma irreverência e bom humor que Rita viveu sua vida e levou sua carreira de mais de 50 anos. Uma trajetória marcada pelo pioneirismo, pela quebra de tabus, de preconceitos. Uma mulher à frente de seu tempo que brilhou num espaço predominantemente masculino, no qual reinava a máxima segundo a qual pra fazer rock é “preciso ter culhões”. Máxima que ela rebateu com: “Ah é? Eu vou fazer com meus ovários e com meu útero”. Promessa que cumpriu com maestria, tornando-se um ícone do Rock In Roll. Relembre sua trajetória:

Rainha do rock nacional,

Rita Lee nasceu em São Paulo em 1947 e despontou para a carreira musical na década de 1960, como vocalista da banda Os Mutantes, com Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Ela se destacou como integrante do movimento Tropicália e logo ficou amiga de outros grandes nomes da música brasileira, como Gilberto Gil e Caetano Veloso. 

Com Os Mutantes, Rita gravou cinco álbuns, e o fim de seu relacionamento com Baptista aconteceu concomitantemente à sua saída da banda. Após o rompimento, ela se uniu ao grupo Tutti Frutti, com quem lançou cinco discos –entre eles o aclamado Fruto Proibido, de 1975. 

Rita Lee foi uma das primeiras mulheres a fazer sucesso a nível nacional dentro do rock. Durante aproximadamente 60 anos de carreira, a cantora acumulou mais de 55 milhões de discos vendidos, tornando-se a quarta artista mais bem-sucedida neste sentido no Brasil, atrás de Tonico & Tinoco, Roberto Carlos e Nélson Gonçalves. 

Ela compôs hits que embalaram gerações e seguem tocando nos rádios e celulares até hoje como Ovelha NegraMania de VocêLança PerfumeAgora Só Falta VocêBaila ComigoBanho de EspumaDesculpe o AuêAmor e SexoRezaMenino BonitoFlagra e Doce Vampiro. Apesar de ser considerada a rainha do rock, Rita Lee flertou com outros gêneros musicais, como o pop rock, disco, new wave, MPB, bossa nova e até mesmo eletrônica. 

Entre 1966 e 1972, Rita Lee fez parte do grupo Os Mutantes. Na época, a banda formada em meio ao movimento tropicalista, participou da famosa apresentação da música Domingo no Parque, ao lado de Gilberto Gil, no terceiro Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967. 

Nesta época também foram gravados seis álbuns, com hits como A Minha MeninaDom QuixoteBalada do LoucoDois Mil e Um e Ando Meio Desligado. 

Depois, entre 1973 e 1978, integrou a banda Tutti Frutti, pela qual passaram diversos artistas. No grupo, Rita Lee lançou o álbum Fruto Proibido, que contém os clássicos Agora Só Falta VocêEsse Tal de Roque Enrow e Ovelha Negra

Logo depois deu início a sua carreira solo em parceria com o guitarrista Roberto de Carvalho, com quem foi casada até o fim de sua vida. O primeiro trabalho da dupla foi o álbum Rita Lee, mais conhecido por Mania de Você, lançado em 1979, com os sucessos Chega Mais, Doce Vampiro e a faixa-título. 

Em 2008, quatro anos antes de anunciar a sua aposentadoria, em janeiro de 2012, Rita Lee foi colocado como uma das 100 maiores artistas da música brasileira, segundo a revista Rolling Stone. No ranking, a cantora ocupou o 15º lugar. 

Apesar de ter anunciado a sua aposentadoria, Rita Lee ainda fez algumas apresentações nos anos posteriores. Em 25 de janeiro de 2013, ao se apresentar no vale do Anhangabaú, como parte dos shows de comemoração dos 459 anos da cidade de São Paulo, a cantora disse “Daqui eu não saio”, referindo-se à cidade onde nasceu.  

“Com esse show abre-se a celebração de meus 50 anos trabalhando com música; participei de algumas bandas; tenho trezentas composições; já fiz 1 bilhão setecentos e dezenove milhões e setenta mil shows; entre outros figurinos já me vesti de noiva, boba da corte, presidiária e Nossa Senhora Aparecida; há 36 anos sou casada com Roberto de Carvalho meu maior parceiro musical e pai dos meus 3 filhos”, afirmou.  

Pouco depois, disse que “para envelhecer com dignidade, a mulher tem de ter desapego. É muito complexo!”. 

Na ocasião, Rita Lee disse que estava “gostando” mais de si. “É o meu processo de envelhecer com dignidade, ver os pontos bons, afastar mágoas que tinha comigo mesma. Eu me perdoei de tudo. Estou me achando legal. Roberto sempre me fala: ‘Pô, se ache legal. Você é legal, é bonita!’. Então, estou aqui, tem umas pelanquinhas, umas rugas, mas estou bem. Tem uma hora que ou você entra na sala de espera da morte ou vê a vida de forma mais leve. Resolvi torcer a favor.” 

Ainda sem comentários

Deixe uma resposta

Seu endereço de e-mail não será publicado.