“A história escrita pelos homens esconde, muitas vezes, as mulheres em seus recônditos obscuros, apaga seu papel, ignora sua presença” Fausta Desrame La Valle.
Há exatos 231 anos, acontecia na França o Movimento Insurrecional de 8 de abril de 1789 que ficou conhecido como o Réveillon da Revolução Francesa.
O movimento que precedeu a Tomada da Bastilha, celebrada em 14 de julho daquele ano, teve como estopim o aumento do preço do pão, tendo como líder Marie-Jeanne Trumeau que, condenada à forca na Place de Grève, atual Praça do Hótel-de-Ville, foi salva da pena de morte por estar grávida.
Portanto, foram as mulheres do povo, maltrapilhas e famintas, as responsáveis pela Revolução Francesa. Na Tomada da Bastilha, por exemplo, segundo o historiador Tonie Judt, o grande contingente revolucionário era composto por mulheres desesperadas. À época, somente o pão consumia de 40 a 80 por cento do salário que recebiam; salário esse bem inferior ao dos homens.
Assim, oprimidas e subalternizadas ante uma classe aristocrática que ignorava seus males, seis mil mulheres, em outubro de 1798, sitiaram Versailles obrigando o casal Luiz XVI e Maria Antonieta a retornar a Paris e residir no Palácio de Tulherias como prisioneiros e sob a vigilância da Revolução das Mulheres.
As protagonistas eram as mulheres do mercado de Halles que trabalhavam e viviam miseravelmente. O direito ao pão de cada dia foi o vetor de uma história universal, transformadora dos destinos da humanidade.
Mulheres peixeiras, prostitutas da ralé, sujas, cobertas de lama, encharcadas de chuva, viveram esse momento épico e deram o Grito das Mulheres. Aprenderam na desordem a importância da ação coletiva. Começaram a pensar em termos sociais, a defender o sexo feminino como grupo discriminado, não mais como destino individual.
Não imaginaram que estavam vivenciando um período transformador, cujos ideais, a posteriori, iriam soprar de maneira tão forte no Brasil. Os ideais de liberté, égalité et fraternité, ainda não estavam contidos nos Direitos Fundamentais do Homem, mas já existia no inconsciente de cada uma.
Michelet Perrot, autora de A História das Mulheres em dois volumes, revelou: “As mulheres estiveram na frente da Revolução, abriram caminho para a tese de igualdade reivindicada pelo direito de viver”.
Uma revolução que se valeu da revolta das miseráveis, relegando-as depois do processo. Rechaçadas, “foram intimadas a retornar aos lares por ser contra a natureza uma mulher querer tornar-se homem”, como argumentava Pierre Chaumette, para quem as mulheres eram destinadas às tarefas piedosas do lar.