Água deve ser considerada patrimônio da humanidade
Margarida Ruas, uma intelectual polivalente, cuja trajetória profissional e social é pautada pela disseminação da cultura como forma de entendimento entre os povos, tem se destacado no cenário mundial pela sua trajetória em defesa da água como um patrimônio da humanidade. Ela diz que muito em breve a questão da água ocupará o topo da preocupação mundial. “Atualmente, o embate gira em torno da energia, mas muito em breve será pela água, que, como sabemos, está pessimamente distribuída no planeta. A água vai ser a grande justificativa para a manutenção da paz”, alerta.
Para a especialista em Ciências da Comunicação, urge a necessidade de uma conscientização mundial sobre a importância da água como um dos principais recursos para a sobrevivência do planeta. “A água sustenta a vida. Ela tem uma dimensão física e metafísica. É um elemento de união, que sustenta o planeta. Nós temos que fazer essa comunicação, disseminando o respeito por ela de forma bidimensional, física e metafisicamente. Nós só cuidamos daquilo que amamos. É preciso que as pessoas se apaixonem pela água, pela sua simbologia. A água é o sangue do espírito”, enfatiza.
Para incentivar essa aproximação, Margarida acredita na educação ambiental e na ligação de todo o patrimônio histórico da água que existe no mundo. “Água é um bem da humanidade e todo patrimônio que existe ligado a ela deve estar inventariado para o amanhã”, afirma. Nesse sentido, como diretora de comunicação da EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres), ela criou, na década de 1990, o Museu da Água de Lisboa, abrindo as portas do Aqueduto das águas Livres, num resgate da riquíssima história de conhecimento e de saber da inteligência portuguesa ligada à sua construção. “O aqueduto é a maior obra hidráulica da humanidade com 58 km de extensão. A maior ponte de pedra que ostenta um arco em ogiva que é o maior do mundo, estamos no Guines por isso. Projetado de acordo com a geometria sagrada, diz a lenda que só um som pode separá-las”, observa.
Único monumento no mundo construído como uma câmara escura, segundo Margarida, seu interior é um templo, uma catedral da água. “Que quando percorremos seus corredores ladeados de água, as janelas refletem toda a paisagem exterior num movimento de sombras, cores, sons e odores de uma beleza indizível. Quando a rainha Fabíola da Bélgica visitou a construção, ela ficou extasiada e disse: ‘eu nunca vi uma simbiose tão perfeita entre os arquitetos e os elementos’. O Aqueduto é uma obra única do inicio do século XVIII com um vanguardismo sem igual. Meu grande projeto com a água é a classificação do Aqueduto das Águas Livres como Patrimônio da Humanidade”, destaca.
Além da visitação ao patrimônio arquitetônico, o Museu da Água promove iniciativas culturais como exposições e um concurso anual direcionado aos alunos das escolas de Lisboa, tendo a água como tema. No seu site há espaço para professores com material pedagógico, e jogos e atividades lúdicas para as crianças. “O museu é um local de celebração da diversidade, da água como elemento de ligação”, pontua.
Também na década de 1990, a serviço da EPAL, Margarida esteve no Brasil, onde fez um trabalho de requalificação do abastecimento de água na empresa Prolagos na cidade de Cabo Frio, região dos Lagos do Rio de Janeiro. “Durante dois anos fui responsável pela estratégia de comunicação da empresa, que curiosamente também tinha um patrimônio histórico bem interessante e fizemos essa ligação com as escolas através de um trabalho de conscientização com professores e alunos sobre a importância da água e do seu consumo consciente. Nós somos aprendizes durante toda a vida e esse conceito as empresas devem cultivar e impulsionar com ações de cidadania, de conscientização”, ressalta.
Preocupada com a gestão dos recursos hídricos no planeta, Margarida, que atualmente é assessora do Conselho de Administração da EPAL, atua em organizações internacionais como a WASA-GN, que faz aconselhamento a governos sobre a água. “Faço parte da Wasa-GN como diretora de relações internacionais. A organização tenta demonstrar a água como um direito humano e como oportunidade de negócio que deve ser regulamentada e olhada com toda a transparência para que no futuro não possa provocar tensões entre os povos. A Wasa procura explicar que as reservas que existem no planeta são mais do que suficientes para todos é apenas uma questão da distribuição e da gestão. Mas isso não inda não é uma prioridade para os governos se fosse já teriam construído uma série de redes de ligação dos pontos mais abundantes para os de grande privação. Não há desenvolvimento sem água”, adverte.
Atualmente, devido a pandemia da Covid-19, a visitação ao Museu da Água está temporariamente encerrada.
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