Okonjo-Iweala primeira mulher a chefiar a OMC

Uma experiente economista nigeriana à frente da OMC

Ngozi Okonjo-Iweala, uma economista experiente e uma das mulheres mais poderosas da Nigéria, aos 66 anos foi nomeada nesta segunda-feira (15) diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), a associação de 164 países sediada em Genebra, na Suíça, que modera as relações comerciais globais. 

Com a nomeação, Okonjo-Iweala se torna a primeira mulher e a primeira pessoa africana a assumir o posto principal da organização.

Duas vezes ministra das Finanças e do Comércio Exterior da Nigéria, chefe da diplomacia de seu país por dois meses, Okonjo-Iweala começou sua carreira no Banco Mundial em 1982, onde trabalhou por 25 anos.

Chegou ao cargo de diretora administrativa, um dos mais altos do banco global de desenvolvimento.  Mas, em 2012, não teve êxito ao tentar se tornar presidente desta instituição financeira, contra o americano-coreano Jim Yong Kim.

Okonjo-Iweala nasceu em 1954 em Ogwashi ukwu, no estado federal do Delta, no oeste da Nigéria. Filha de um rei da Nigéria, foi com sua mãe que viveu um dos acontecimentos mais marcantes de sua vida: viu a progenitora ser sequestrada — ela ousou denunciar a corrupção na indústria do petróleo nigeriana — e então encarou seus captores. Detalhes do episódio, porém, nunca foram revelados. E a própria Okonjo-Iweala também já recebeu telefonemas ameaçadores de adversários políticos.

A atual diretora geral da OMC, passou a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, onde estudou em duas universidades de prestígio, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Harvard.

Desde a sua criação em 1995, a OMC teve como diretores-gerais seis homens: três europeus, um neozelandês, um tailandês e um brasileiro.

– Encrenqueira –

Em razão de seu vigor em defender os pobres e lutar pelo bom combate, recebeu o apelido de “encrenqueira”. Apelido que considera uma medalha de honra. “Se eu for considerada um problema para o sistema por causa do meu desejo de limpar nossas finanças públicas e trabalhar por uma vida melhor para os nigerianos, então que assim seja”, escreveu em seu livro “Reformando o irreformável”.

Apesar de ter uma carreira impressionante com tantas conquistas, sua candidatura, no entanto, não desencadeou unanimidade.

“Ministra, ela pode ter adotado algumas reformas de transparência, mas cerca de US$ 1 bilhão desapareceu todos os meses dos fundos estatais quando administrava as finanças”, afirma Sarah Chayes, autora de Thieves of State, livro de pesquisa sobre corrupção em grande escala.

“Há uma sede por histórias positivas e, em uma época em que as questões da diversidade são levantadas no debate público, ser uma mulher negra joga a seu favor”, ressalta a autora americana.

Mas, segundo ela, é “uma vergonha que pode ser levada em conta para esse cargo”.

Okonjo-Iweala nunca foi processada por roubo dos fundos do Estado, e seus críticos acreditam que ela poderia ter feito mais para evitar os desvios de dinheiro.

“Ela deveria ter renunciado e exposto a corrupção”, afirma Olanrewaju Suraju, da ONG Nigeriana Human and Environmental Development Agenda.

E para aqueles que a culpam pela falta de experiência na área de comércio internacional, ela responde: “Trabalhei toda minha vida com política comercial”, declarou ela em um seminário virtual organizado em julho pela Chatham House, um centro de pesquisas britânico.

“Acima de tudo”, o diretor-geral da OMC deve ter “ousadia, coragem”, acrescentou ela, sobre a escolha não ser feita apenas com base em habilidades técnicas.

– Liberal –

Okonjo-Iweala foi nomeada em julho como enviada especial da União Africana para a luta contra a pandemia no continente. Sua missão era mobilizar apoio internacional para enfrentar a crise econômica global que afeta plenamente os países africanos.

Como presidente da OMC, terá muito a fazer em um contexto global de crise econômica e crise de confiança na organização, quando a liberalização do comércio globalizado é altamente criticada.

À frente da OMC, sua figura promete revigorar os 164 membros e tirar a organização da crise mais profunda em seus 25 anos de história. Há anos, a OMC não fecha um grande acordo comercial multilateral. O prazo de 2020 para o fim dos subsídios à pesca predatória também não foi cumprido.

Okonjo-Iweala também pretende desempenhar um papel na ajuda aos países mais pobres para obtenção de vacinas contra a Covid-19.

“O comércio pode contribuir para a saúde pública, percebendo essa conexão, invocando as regras da OMC, discutindo ativamente as questões da Covid-19 e como a OMC pode ajudar… Para mim, isso seria uma prioridade”, disse ela à Reuters em setembro.

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