Francisco Ribeiro Telles, secretário executivo da CPLP, fala sobre equidade de gênero, mobilidade no espaço lusófono e a difusão da Língua Portuguesa
Segundo o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no cargo desde janeiro de 2019, a questão de gênero é uma prioridade na agenda da organização. “A questão de gênero é um assunto sempre presente na agenda da CPLP e é com certeza uma das prioridades na agenda futura porque é uma questão transversal de toda a sociedade de forma que esta sempre presente em nosso espírito”.
Para Telles, a participação da mulher na CPLP é cada vez mais importante. Neste sentido, ele destaca a existência da Rede de Mulheres Parlamentares e a Federação de Mulheres Empresárias. “Não apenas temos a Rede de Parlamentares como temos a Federação de Empresárias da CPLP que estão dando seus primeiros passos com uma grande adesão. Assim, esperamos que o papel da mulher seja cada vez mais relevante, que seja um papel muito presente no dia a dia da CPLP. Para isso, esperamos que possa haver outras iniciativas coletivas de mulheres”, almeja.
Língua Portuguesa
Defensor e incentivador do crescimento da Língua Portuguesa, vê com otimismo sua propagação aos quatro cantos do mundo. “As expectativas são muito boas em relação a seu crescimento. De acordo com relatório da ONU, vai se falar cada vez mais português no mundo até o final do século. Neste momento, as estimativas das Nações Unidas apontam que 250 a 260 milhões de pessoas falam português no mundo e até o final do século serão 500 milhões de pessoas. Ou seja, praticamente vai dobrar o número de pessoas falando a língua portuguesa”, observa.
Com relação ao crescimento da sua importância, Telles sinaliza que em 2019, a UNESCO, organização das Nações Unidas que trata também das questões da cultura e da língua, criou o dia 5 de maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa. “É a primeira vez que uma língua tem seu dia mundial de forma que é bastante significativo”.
Mobilidade
A mobilidade das pessoas entre seus estados membros é outro assunto de extrema relevância apontado pelo secretário. “A CPLP foi criada em 1996. É uma organização jovem com 25 anos. Ela tem funcionado bem na questão da promoção da língua, na concentração política ou diplomática e mesmo em projetos de superação. No entanto, ainda não funciona bem no que diz respeito a uma aproximação com seus cidadãos”, observa.
Para Telles, os cidadãos dos estados membros da CPLP ainda não perceberam a importância que a CPLP pode vir a ter para eles. “Se faz necessária a criação de mecanismos que aproxime as pessoas, criando um sentimento de pertencimento em relação a CPLP. Neste sentido, uma das prioridades da agenda é a mobilidade. Para isso, é preciso estudar meios que facilitem a circulação das pessoas entre seus estados membros, de forma que por um lado nos conheçamos melhor e por outro lado diminuam os entraves burocráticos a nossa circulação no espaço lusófono”, explica.
Como exemplo de pertencimento, Telles recordou do Erasmus, programa de mobilidade estudantil que contribuiu para que os portugueses se sentissem cidadãos europeus. “Este programa permitiu a livre circulação de estudantes membros da União Europeia. Ou seja, possibilitou às pessoas estudarem em uma universidade sem barreiras, dentro da União Europeia”.
Um exemplo, segundo o secretário, inviável para a CPLP. “Não se pode fazer um programa Erasmus na CPLP, tendo em vista a enorme descontinuidade geográfica, níveis de desenvolvimento diferente, jurídicos e de segurança muito diferenciados”. No entanto, adianta que os primeiros passos para uma mobilidade dentro do espaço lusófono, serão dados em julho durante a cimeira de Luanda. “Na cimeira de Luanda, em julho, vamos discutir um acordo de mobilidade, cujo aprofundamento será um processo gradual, dependendo da adesão de cada país à convenção.”