“Beauvoir, a aventura de ser você mesma”

Documentário retrata a vida da ícone feminista, considerada uma das mentes mais livres do século XX

Todos já ouviram falar em Simone de Beauvoir. Mas quem ela era realmente? Que vestígios ela deixou mais de sessenta após a publicação de “O Segundo Sexo”? Entre arquivos, testemunhos e perspectivas, “Beauvoir, a aventura de ser você mesma”, oferece um retrato sincero e documentado da sua trajetória.

“Beauvoir não nasceu Beauvoir, ela se tornou”. É com essas palavras que começa o documentário de Fabrice Gardel e Mathieu Weschler, que ambiciona tornar a autora de “O Segundo Sexo” “viva” e “contemporânea”. Durante os 55 minutos de sua exibição, é possível revisitar a vida da romancista e filósofa feminista, falecida em 1986. A importância de sua obra ganha escopo pelo depoimento de escritores, filósofos, professores e jornalistas.

De Simone de Beauvoir a Beauvoir, o ícone

Erguida como modelo pelas novas gerações, Beauvoir é a ensaísta feminista francesa conhecida em todo o mundo. Cronologicamente, Beauvoir, a aventura de ser você mesma faz um  retrospecto da vida da filósofa, romancista e ensaísta, longe da imagem dura que pode ter sido dada a ela. Quem era ela antes do lançamento de O Segundo Sexo ? Antes de Memórias de uma jovem arrumada ?

Vinda de uma família da burguesia parisiense, nascida no início do século XX, a jovem Simone rapidamente se emancipou, afastando-se das convenções sociais, do padrão clássico da menina com trajetória clara, do casal. “Quero viver a grande aventura de ser eu mesma”, diz ela, convencida desde cedo da necessidade de se emancipar.

Ao longo do documentário, jornalistas, escritores e filósofos aparecem na tela para destacar a vanguarda de Simone de Beauvoir, cujas ambições foram traçadas desde a infância. Os diretores evocam a juventude da mulher das letras, antes dos primeiros romances e de seus sucessos. O ano de Marselha no início da sua carreira, a Normandia com Sartre, depois o compromisso político, indivisível da sua obra, ao qual está ligado o círculo artístico com que vai evoluir: Camus, Vian, Giacometti…

“Ela tem essa ideia fenomenal e muito libertadora de dizer ‘Vou fazer um livro enciclopédico onde vou tentar descobrir por que dizemos que somos inferiores aos homens’”, diz Leïla Slimani. Assim, com O Segundo Sexo (1949), publicado na madrugada de seus 40 anos, ela se torna aquela que conhecemos: coque, cara séria, palavras claras e convincentes.

Beauvoir hoje

Há sessenta anos, Beauvoir já falava abertamente sobre liberdade sexual, bissexualidade, clamava pela independência das mulheres e ousava falar do corpo feminino. “A independência das mulheres passa pela sua independência econômica”, evoca ela em imagens de arquivo, cujas palavras poderosas para a época, ainda hoje têm o mesmo alcance. Assim, como não pensar na maternidade como uma obrigação, revendo a distribuição das tarefas domésticas.

Todo esse peso deixado sobre os ombros das mulheres e tratado em O Segundo Sexo não diz respeito apenas às mulheres, mas também aos homens. Sua publicação a tornou conhecida em todo o mundo. Mais do que um retrato da filósofa e ativista feminista, o documentário se propõe a ancorá-la hoje. Simone de Beauvoir ainda pode ser lida em todos os lugares, despertando a consciência feminista.

No século 21, é sua a famosa frase que ainda ecoa, em manifestações feministas: “Nunca se esqueça que bastará uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”. Mais do que uma pioneira, foi ela que fez um elo entre a sua geração e a de hoje, ao transmitir sua força e luta.

Beauvoir, a aventura de ser você mesma, documentário de Fabrice Gardel e Mathieu Weschler, Zadig Produções e Senado Público, estará disponível no site do Senado Público a partir do dia 17 de abril, às 21h.  

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