Poucos sabem, mas a independência brasileira foi proclamada, no papel, pela princesa Leopoldina, cinco dias antes de D. Pedro dar o grito do Ipiranga
A arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina Josefa Coralina, primeira esposa de D. Pedro I, diferente, mas não menos astuta que a sogra Carlota Joaquina, mostrou-se grande estrategista. Em meio a intensa agitação política, soube usar sua natural perspicácia política, sendo a artífice da Independência do Brasil.
Nascida em Viena, desde pequena foi submetida a um programa intensivo de aulas diárias, adquirindo conhecimentos científicos, políticos, históricos e artísticos, além de dominar vários idiomas. Ao contrário do marido, avesso aos estudos e dado à boemia, preferia a vida ao ar livre e era excelente aluna. Em 1817, quando chegou ao Brasil para se casar com D. Pedro I, encontrou por aqui ambiente muito diferente. Aos poucos, no entanto, afeiçoou-se à nova terra. A conselho do pai, a princesa mantinha-se estrategicamente afastada da sogra geniosa. Em contrapartida, tinha especial apreço por D. João VI, que considerava seu pai na América.
Segundo cartas enviadas à irmã Maria Luiza e ao pai, os primeiros anos da vida conjugal dos jovens príncipes foram felizes. Leopoldina apaixonou-se de verdade por D. Pedro I, tendo, no auge da felicidade, relata – do que D. Pedro era marido afetuoso e companheiro. Cavalgar era uma paixão compartilhada pelo casal. Em várias ocasiões, foram vistos em passeios solitários pela floresta da Tijuca, pelos recantos mais bonitos da cidade do Rio de Janeiro, prova de que a união era real e prazerosa, algo incomum para um casamento arranjado. Nos primeiros seis anos da união, tiveram sete filhos.
Com a volta da família real para Lisboa, em 1821, D. Pedro I assumiu o governo no Brasil como príncipe regente, no lugar de seu pai, D. João VI. Nesse período, a jovem imperatriz, que sentiu de perto as transformações pelas quais passou a Europa, viu crescer a tensão no Brasil diante da indecisão do marido em abraçar ou não a causa da independência. Com visão muito mais clara sobre o futuro político da colônia, Leopoldina sabia que, se D. Pedro retornasse a Portugal, perderia o trono no Brasil. Diante disso, aproveitou um período em que assumiu a regência por cinco semanas, durante viagem do marido a São Paulo, e mostrou toda a sua convicção política.
A primeira mulher a governar o Brasil convocou em sessão extraordinária o Conselho de Estado e, no dia 2 de setembro de 1822, no Paço da Boa Vista, no Rio de Janeiro, decidiu, junto com os ministros, pela separação definitiva do Brasil de Portugal. Assim, a independência brasileira foi proclamada, no papel, pela princesa Leopoldina, cinco dias antes de D. Pedro dar o grito do Ipiranga “que, segundo pesquisadores, não houve”. Leopoldina provou em solo brasileiro que era a verdadeira descendente de Maria Tereza, a Grande (sua bisavó), imagem bem diferente da mulher submissa, sempre à sombra do imperador, que alguns historiadores insistem em lhe reservar.
Por ironia, a vitória representada pela Proclamação da Independência marcou o começo do trágico fim de Leopoldina. Foi durante a viagem a São Paulo, em 1822, que D. Pedro conheceu a futura amante, Domitila de Castro. À medida que aumentava a paixão entre o monarca e a paulista, crescia o desinteresse pela imperatriz. Nos últimos quatro anos de vida, Leopoldina viveu isolada, sem amor e praticamente sem dinheiro, numa espécie de cárcere privado.
Segundo historiadores, antes de uma viagem para o Sul do país, o imperador resolveu dar uma festa com a presença de Domitila, motivo da última briga do casal, semanas antes da morte da imperatriz. A morte precoce de Leopoldina, aos 29 anos, causou grande impacto na cidade do Rio de Janeiro e seu funeral teve grande participação popular.